Superar adversidades, ressignificar a dor e transformar marcas em força. Essa é a essência da história de Marçal Siqueira, autor de Marcado, que, após anos de silêncio, decidiu abrir o coração e compartilhar uma jornada de fé, resiliência e recomeço.
Em uma conversa reveladora, Marçal revisita os 16 minutos e 53 segundos que viraram sua vida de cabeça para baixo, expondo sua reputação e colocando à prova sua força emocional. Ele fala sobre o impacto dos julgamentos, o isolamento de quem se afastou e o inesperado apoio de pessoas que estiveram ao seu lado nos momentos mais sombrios.
Com coragem, o autor reflete sobre como a fé, a família – especialmente sua esposa Nil – e a determinação para reconstruir sua história o ajudaram a transformar o caos em aprendizado. Mais do que um relato pessoal, Marcado é um convite para os leitores ressignificarem suas próprias cicatrizes e descobrirem o poder do recomeço.
Nesta entrevista, Marçal explora as lições mais profundas de sua trajetória e revela como suas experiências podem inspirar outros a enfrentar as tempestades da vida com coragem, propósito e fé.

Por que você escolheu o título Marcado para o seu livro e o que ele simboliza na sua trajetória?
Escolhi o título Marcado porque ele representa, de forma intensa e simbólica, o impacto que os momentos mais difíceis da minha vida tiveram em mim. Ser “marcado” não é apenas carregar cicatrizes, mas reconhecer que essas marcas contam uma história de desafios superados, aprendizados profundos e transformação pessoal.
No livro, relato como 16 minutos e 53 segundos foram suficientes para mudar completamente minha vida: perdi dinheiro, fui exposto nacionalmente e tive minha reputação abalada. Essas experiências deixaram marcas profundas, mas não definiram quem eu sou. Pelo contrário, foi através dessas marcas que redescobri minha força, reconstruí meu propósito e me reconectei com minha fé.
O título Marcado é um símbolo dessa jornada de superação. Ele demonstra que, mesmo em meio às adversidades, é possível ressignificar nossas experiências e utilizá-las como ferramentas de crescimento. Não é uma história de derrota, mas de resiliência. Minha intenção é que o leitor entenda que suas próprias marcas podem ser a base para algo extraordinário.
No livro, você menciona que “16 minutos e 53 segundos” mudaram completamente a sua vida. Pode nos contar o que aconteceu e como você lidou com esse momento?
Os 16 minutos e 53 segundos referem-se à duração de uma matéria exibida em rede nacional que transformou minha vida. Durante esse breve período, minha reputação, construída ao longo de décadas, foi jogada na lama. A matéria me associava, de forma equivocada, a um esquema financeiro do qual fui vítima. Apesar de conhecer os proprietários da empresa, nunca fui sócio nem tive qualquer envolvimento operacional.
A exposição pública foi devastadora, trazendo julgamentos precipitados e um isolamento que nunca imaginei enfrentar. Ver minha história ser distorcida foi profundamente doloroso. No início, senti indignação, vergonha e desamparo. No entanto, percebi que precisava fazer uma escolha: permitir que aquela narrativa me definisse ou usá-la como motivação para recomeçar.
Com o apoio da minha fé, da minha família e de pessoas que permaneceram ao meu lado, escolhi o caminho da reconstrução. Esses 16 minutos e 53 segundos marcaram minha história, mas não foram o capítulo final. Eles se tornaram o início de um processo de ressignificação e transformação.

Como foi o processo de decidir compartilhar sua história de forma tão vulnerável e aberta? Teve receio de como as pessoas reagiriam?
Inicialmente, optei pelo silêncio. Achei que seria a melhor forma de proteger minha família, minha dignidade e minha fé. Contudo, com o passar do tempo, após muitas reflexões, conversas com amigos próximos e, acima de tudo, orientação de Deus, percebi que precisava compartilhar minha história. Não para me colocar como vítima, mas para mostrar que é possível crescer e se transformar mesmo nas adversidades.
Sim, o que as pessoas poderiam pensar me preocupava – isso é natural. Mas decidi que não deixaria isso me limitar. O que eu não podia fazer era guardar essa história dentro de mim como um fardo que me paralisaria. Escrever Marcado foi libertador e, ao mesmo tempo, uma forma de ajudar quem enfrenta suas próprias tempestades.
Este livro não é sobre justificar ou acusar, mas sobre inspirar. É a minha maneira de dizer que, mesmo nas piores situações, há uma saída, há esperança. O que importa não é o julgamento alheio, mas o impacto positivo que posso causar na vida de quem precisa de força e direção.
Sua esposa Nil e sua família desempenham um papel central na sua recuperação. Pode nos contar como a fé e o apoio deles foram essenciais durante os momentos mais difíceis?
Minha esposa Nil e minha família foram os pilares que me sustentaram nos momentos mais sombrios da minha vida. Quando tudo parecia ruir, eles permaneceram firmes ao meu lado, me dando força quando eu não conseguia encontrá-la em mim mesmo. A Nil, em especial, foi minha “torre forte”. Sua fé inabalável em Deus e em mim foi o que me manteve de pé.
Em um dos momentos mais difíceis, desabafei dizendo que não aguentava mais fazer “engenharia financeira” para sustentar tudo, e ela respondeu com tranquilidade: “Está nos faltando alguma coisa?” Essas palavras simples, mas cheias de confiança em Deus, me fizeram perceber que, apesar do caos, nunca nos faltou o essencial.
Meu filho Júnior, com sua serenidade e apoio silencioso, também teve um papel crucial. Ele me ensinou que, às vezes, a maior força está em simplesmente estar presente. Minha fé e o amor incondicional da minha família foram o alicerce para a reconstrução de tudo.

Você fala sobre enfrentar julgamentos e rótulos. Como lidou com as pessoas que se afastaram e, ao mesmo tempo, com aquelas que surpreendentemente ofereceram apoio?
Nunca fui bajulado, mas também nunca havia sido acusado. Ser colocado na posição de manchete, exposto por pessoas que sabiam da verdade, foi uma experiência devastadora. Ver pessoas que eu considerava próximas se afastarem, como se eu fosse um problema, foi profundamente doloroso.
Por outro lado, fui surpreendido por pessoas que eu menos esperava. Elas apareceram com palavras de conforto, gestos generosos e apoio genuíno, trazendo esperança em meio ao caos. Isso me ensinou que crises revelam tanto a força das relações verdadeiras quanto a fragilidade das superficiais.
Entendi que, mesmo com as decepções, o mais importante era focar na minha verdade, na minha fé e no apoio daqueles que permaneceram. Isso me ajudou a não me deixar abalar pelas atitudes de quem optou por virar as costas.
O que os leitores podem esperar de Marcado? Que tipo de transformação você espera que essa leitura traga para a vida deles?
Eles entenderão tudo o que é possível aprender com alguém que, na época, se considerava um aprendiz de caos. Em Marcado, compartilho não apenas as dificuldades que enfrentei, mas também como essas experiências moldaram quem sou hoje.
Quero que os leitores vejam as adversidades como pontos de partida para algo maior, entendendo que cada dor traz consigo uma lição e cada queda pode ser o início de um recomeço. Espero que o livro inspire coragem, resgate a fé e ajude cada leitor a descobrir sua própria força.
Após finalizar o livro, percebi que ele foi além do que imaginei. Consegui trazer lições práticas e estratégicas em cada capítulo – ensinamentos que só ficaram claros com o tempo e a maturidade. Marcado é mais do que um relato; é um guia para transformar a dor em crescimento e a crise em propósito.

Seu livro explora momentos de dor, mas também fala de superação e fé. Qual foi a maior lição que você aprendeu ao passar por essa jornada?
Nenhuma tempestade dura para sempre. Essa foi uma das maiores lições que aprendi. Mesmo os momentos mais difíceis trazem a possibilidade de renovação. Percebi que a dor, embora avassaladora, pode ser transformada em força e aprendizado.
Além disso, entendi que a fé e o amor das pessoas próximas são âncoras que nos ajudam a atravessar as maiores crises. Deus nunca me deixou, mesmo quando parecia que eu estava sozinho. Ele estava me moldando para algo maior.
Também descobri que o silêncio pode ser uma ferramenta poderosa para preservar nossa dignidade e nos concentrar no que realmente importa. Revisitar essa jornada ao escrever o livro me mostrou que os maiores desafios podem nos transformar em versões mais fortes e sábias de nós mesmos.

Créditos:
Foto: Carolina Azevedo
Assessoria: @biavillasboas_


