Será que tudo o que parece natural é realmente seguro?
Nos últimos anos, a prática de consumir a própria placenta após o parto ganhou visibilidade, impulsionada por celebridades como Bela Gil e a esposa de Calvin Harris. A ideia, que pode soar ancestral ou até instintiva para alguns, desperta curiosidade, mas também levanta dúvidas sérias sobre seus reais benefícios e possíveis riscos.
Conhecida como placentofagia, a ingestão da placenta pode acontecer de várias formas: crua, desidratada em cápsulas ou até incorporada a receitas. Defensores afirmam que ela ajudaria na recuperação pós-parto, aumentaria a energia, melhoraria a amamentação e reduziria as chances de depressão. No entanto, especialistas ressaltam que, até agora, não existem evidências científicas que comprovem essas promessas.
Um estudo conduzido pela Faculdade de Medicina de Northwestern, em Chicago, analisou dez pesquisas sobre o tema e concluiu que os supostos benefícios não se sustentam diante dos dados disponíveis. Ao contrário, obstetras e instituições médicas alertam para riscos como contaminação por bactérias, vírus e substâncias potencialmente tóxicas.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos chegou a registrar um caso em que um recém-nascido foi infectado por estreptococo do grupo B, possivelmente transmitido pela placenta ingerida pela mãe.
Apesar de comum entre outros mamíferos e presente em algumas práticas tradicionais, a placentofagia ainda não encontra respaldo científico sólido para seu uso em humanos. Para a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, a prioridade deve ser a segurança da mãe e do bebê e, por isso, a recomendação é não adotar a prática.
No fim, a decisão sobre consumir ou não a placenta vai além da curiosidade ou da influência de celebridades. Trata-se de ponderar entre tradição, modismo e ciência, colocando sempre a saúde materna e infantil como prioridade. Até que pesquisas que comprovem benefícios reais e segurança no consumo, talvez a pergunta mais prudente não seja “por que não fazer?”, mas sim “vale o risco?”.


