Pesquisas revelam que partículas invisíveis do plástico podem se acumular nos vasos sanguíneos e acelerar doenças cardíacas
A poluição plástica, antes associada apenas a oceanos e ecossistemas, já é considerada uma ameaça direta à saúde humana. Pesquisas recentes demonstraram que micro e nanoplásticos, partículas menores que um grão de areia, foram encontrados dentro das artérias humanas, em regiões críticas como a carótida. O achado acende um alerta sobre um risco cardiovascular até então pouco discutido.
O que são microplásticos e por que eles preocupam
Microplásticos são fragmentos com menos de 5 milímetros de diâmetro que resultam da degradação de plásticos maiores, presentes em embalagens, roupas sintéticas e até cosméticos. Essas partículas estão no ar, na água potável e nos alimentos que consumimos diariamente.
A grande preocupação é que, ao serem inalados ou ingeridos, eles consigam atravessar barreiras biológicas e circular pelo corpo, alcançando órgãos vitais.
O estudo que mudou o debate
Um artigo publicado no New England Journal of Medicine analisou pacientes submetidos a cirurgias de carótida e encontrou micro e nanoplásticos em placas ateroscleróticas. Os resultados mostraram que aqueles com partículas presentes tiveram um risco 4 vezes maior de sofrer infarto, AVC ou morte cardiovascular no período de acompanhamento.
Esse é um dos primeiros estudos a demonstrar não apenas a presença, mas também a associação com desfechos clínicos graves.
Como os plásticos afetam o coração
A hipótese dos pesquisadores é que essas partículas provocam inflamação crônica, acelerando a formação e instabilidade das placas de gordura que obstruem as artérias. Além disso, podem atuar como transportadores de substâncias químicas tóxicas presentes no plástico, aumentando o estresse oxidativo nos tecidos.
Impactos para a saúde pública
As doenças cardiovasculares já são a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A possível contribuição dos microplásticos surge como um novo fator de risco ambiental, que pode se somar a hábitos já conhecidos, como tabagismo, sedentarismo e alimentação inadequada.
O que podemos fazer no dia a dia
Ainda não há protocolos médicos específicos para rastrear microplásticos no corpo. Mas existem medidas práticas para reduzir a exposição:
- Evitar aquecer alimentos em recipientes plásticos no micro-ondas.
- Preferir garrafas e utensílios de vidro ou inox no lugar de plásticos descartáveis.
- Optar por roupas de fibras naturais, que liberam menos microfibras sintéticas na lavagem.
- Filtrar a água sempre que possível, reduzindo a ingestão dessas partículas.
O que vem pela frente
A ciência ainda está nos estágios iniciais de entender a relação entre microplásticos e saúde humana. O achado recente, no entanto, pressiona a comunidade médica e os órgãos de saúde a incluir a poluição plástica como tema central em pesquisas e políticas públicas. Os microplásticos já não são apenas um problema ambiental distante: eles estão dentro de nós e podem estar acelerando doenças cardiovasculares silenciosamente. Embora a prevenção completa seja impossível, reduzir o contato no cotidiano é uma forma de cuidado individual, enquanto a sociedade cobra soluções mais amplas para a poluição plástica.
Fontes:
New England Journal of Medicine – Microplastics and Nanoplastics in Atheromas
Nature – Microplastics in human tissues and health risks
Organização Mundial da Saúde (OMS) – dados sobre doenças cardiovasculares


