Entre climas, costumes e rotinas, a higiene corporal reflete muito mais do que limpeza
No Brasil, o banho faz parte da rotina diária de milhões de pessoas, muitas vezes repetido mais de uma vez ao dia. O clima tropical, a sensação de frescor e a própria construção cultural ajudam a explicar por que o hábito está tão enraizado. Mas esse padrão não é universal: em várias partes do mundo, a frequência no banho é diferente e reflete valores históricos, sociais e até mesmo condições ambientais.
O olhar de quem viveu a diferença
Albertino, 43 anos, brasileiro que há alguns anos vive na Europa, percebeu de perto essa diversidade de hábitos. “No Brasil, o banho diário é quase inquestionável, faz parte da nossa identidade. Aqui, conheci pessoas que tomam banho em dias alternados e que veem isso como suficiente. Para mim, no entanto, continua sendo essencial pelo menos um banho por dia, muitas vezes até dois, porque é algo que me dá conforto e bem-estar”, relata.
Segundo ele, o contraste chamou atenção logo nos primeiros meses fora do país. “No começo foi um choque cultural, mas depois entendi que não se trata de falta de cuidado. É apenas um modo diferente de lidar com a higiene, muito influenciado pelo clima e pela forma como cada sociedade organiza a rotina”, acrescenta.
Europa e a influência do clima
Nos países de clima frio, como grande parte da Europa, banhos menos frequentes são comuns. Além da temperatura, que naturalmente reduz a transpiração, existe também a preocupação com o ressecamento da pele, motivo pelo qual muitos consideram que banhos diários podem ser excessivos.
Japão e a tradição do ritual
Já no Japão, o banho vai além da limpeza corporal e é considerado um momento de relaxamento. O hábito de mergulhar em águas quentes, como nos tradicionais ofurôs, valoriza o aspecto ritualístico. Muitas vezes, a higiene é feita previamente, e o banho é vivido como uma experiência de cuidado com o corpo e a mente.
Estados Unidos e a rotina acelerada
Nos Estados Unidos, a prática do banho diário também é frequente, mas geralmente rápida e prática, ligada ao início do dia e à ideia de produtividade. A duração costuma ser menor, sem a dimensão ritual observada em outras culturas.
Outras culturas e costumes
Na Índia, por exemplo, o banho está fortemente associado a questões religiosas, sendo comum mergulhos em rios considerados sagrados. Já em países do Oriente Médio, onde o calor é intenso, banhos diários ou até múltiplos também fazem parte da rotina, mas com um simbolismo ligado tanto ao frescor quanto à purificação. Nos países nórdicos, por outro lado, o hábito pode incluir saunas, valorizando o contato com o calor em meio às baixas temperaturas externas.
O que dizem os especialistas
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não estabelece uma frequência ideal para o banho corporal. A entidade destaca a importância da higiene, especialmente da lavagem das mãos, como medida essencial de prevenção a doenças. Em relação ao banho completo, a orientação é que cada pessoa ajuste sua rotina conforme fatores como clima, nível de atividade física e condições de saúde da pele.
Mais do que limpeza, um reflexo cultural
Assim, a frequência do banho vai muito além de uma questão de higiene: ela traduz estilos de vida, rituais e maneiras de compreender o corpo. Enquanto no Brasil é quase impossível imaginar o dia sem pelo menos um banho, em outros países essa prática assume outros sentidos, do cuidado prático ao ritual de purificação.
Fontes:
Organização Mundial da Saúde (OMS) – Hygiene and sanitation
Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC)


