A importância de lembrar
A trombose, formação de coágulos sanguíneos em veias profundas, é uma condição que pode parecer silenciosa, mas tem grande relevância para a saúde pública. Em nível global, as doenças tromboembólicas são estimadas como responsáveis por 1 em cada 4 mortes registradas no mundo.
Neste Dia Mundial da Trombose, cabe trazer não apenas a descrição da doença, mas dados que demonstrem sua magnitude e reforcem a urgência de diagnóstico, tratamento e prevenção.
O que é trombose e por que representa risco
A trombose venosa profunda (TVP) ocorre quando um coágulo se forma em veias profundas das pernas ou coxas, bloqueando o fluxo sanguíneo. Esse acúmulo causa dor, inchaço e sensação de calor local. O risco maior surge se o coágulo se desprende e migra pela circulação, em um processo chamado embolia, podendo obstruir artérias no pulmão, cérebro, coração ou outros órgãos, ocasionando eventos de alta gravidade.
Na forma aguda, muitos casos são resolvidos pelo próprio organismo, que consegue dissolver o trombo sem deixar sequelas. Já na forma crônica, a presença prolongada do coágulo ou sua remoção incompleta pode danificar válvulas venosas, comprometendo o retorno sanguíneo. Esse dano gera sintomas como edema persistente, varizes, escurecimento da pele, endurecimento e até feridas crônicas.
Tipos e características principais
Trombose aguda: início recente, o organismo pode dissolver o coágulo naturalmente, sem deixar sequelas.
Trombose crônica: ocorre quando há dano residual nas veias e válvulas, prejudicando o retorno do sangue e levando a dor, inchaço persistente e feridas.
Fatores de risco e causas comuns
A trombose pode surgir em diferentes contextos. Entre os fatores mais associados estão:
Imobilização prolongada, como em longos voos ou repouso após cirurgias
Intervenções cirúrgicas ortopédicas, ginecológicas ou oncológicas
Uso de anticoncepcionais hormonais, gravidez e puerpério
Doenças oncológicas
Obesidade, tabagismo e histórico familiar de trombofilia
Idade avançada
Estudos internacionais estimam a incidência de tromboembolismo venoso (TEV), que inclui TVP e embolia pulmonar, entre 1 e 2 casos por 1.000 pessoas por ano em populações ocidentais. Em países em desenvolvimento, os números tendem a ser menores ou subnotificados. No Brasil, estimativas apontam entre 0,2 e 0,7 casos por 1.000 habitantes ao ano, com média de 0,6/1.000 habitantes/ano.
Sintomas e sinais de alerta
Embora algumas tromboses sejam silenciosas, quando há manifestações, estas podem incluir:
Dor incomum ou intensa em uma perna
Inchaço súbito ou crescente
Vermelhidão ou calor local
Rigidez muscular ou dificuldade para caminhar
Falta de ar súbita, aceleração dos batimentos, tontura ou desmaio
Dor no peito ou nas costas sem causa aparente
Tosse com sangue
Esses sinais exigem atenção médica imediata.
Diagnóstico
O diagnóstico combina avaliação clínica e exames de imagem. Os métodos mais utilizados são:
Ultrassonografia (como o Doppler vascular)
Exames de sangue (como D-dímero)
Venografia
Tomografia ou ressonância magnética em casos específicos
A suspeita rápida permite agir antes de complicações mais graves.
Tratamento e objetivos
Uma vez confirmada a trombose, o tratamento deve ser iniciado imediatamente. Os objetivos principais são:
Impedir que o coágulo cresça
Evitar que ele se desloque para órgãos vitais
Reduzir o risco de recorrência
As estratégias incluem:
Anticoagulantes orais ou injetáveis para evitar novas coagulações
Heparina em casos agudos ou de risco elevado
Inserção de filtros na veia cava em pacientes com contraindicação ao uso de anticoagulantes
Meias de compressão graduada para auxiliar o retorno venoso e controlar o edema
Trombose no avião
Viagens longas de avião favorecem a lentidão do fluxo sanguíneo, um dos fatores de risco para trombose. O uso de meias de compressão, movimentação frequente das pernas e hidratação adequada são medidas eficazes para minimizar esse risco.
Nem toda dor ou desconforto nas pernas durante voos é trombose, mas sintomas intensos ou persistentes após a viagem exigem avaliação médica.
Panorama epidemiológico no Brasil
Uma análise de dados de hospitalizações pelo SUS entre 2008 e 2022 registrou 700.315 internações por tromboembolismo venoso (TEV), o que corresponde a uma média de 3,02 casos por 10.000 habitantes ao ano. Entre esses, 16,3% eram de embolia pulmonar e 77% de tromboses venosas superficiais ou profundas.
De 2008 a 2019, foram registradas 81.152 internações por embolia pulmonar, com taxa média de 3,38 por 100.000 habitantes e mortalidade hospitalar de 20,1%. No mesmo período, as hospitalizações por embolia pulmonar aumentaram de 2,57 para 4,44 por 100.000 habitantes, um crescimento médio anual de 5,6%.
Estudos apontam que as internações por trombose venosa profunda diminuíram entre idosos, enquanto os casos de embolia pulmonar aumentaram, reforçando a necessidade de diagnóstico precoce. Na Bahia, entre 2010 e 2020, houve média anual de 301 óbitos por tromboembolismo, com maior incidência em pessoas com mais de 75 anos.
Por que todo mundo deve prestar atenção
A trombose não é uma doença rara e pode afetar pessoas de qualquer idade. Mulheres estão mais expostas a fatores hormonais e gestacionais, mas homens também são afetados. Suas consequências variam desde sequelas crônicas até morte súbita por embolia.
A diferença entre controle e tragédia está no tempo. Quanto mais rápido o reconhecimento e o início do tratamento, maiores as chances de evitar complicações graves. A conscientização é o primeiro passo para mudar esse cenário. Se surgirem sintomas como dor ou inchaço súbito nas pernas, falta de ar ou dor torácica, procure atendimento médico imediatamente. A trombose é uma emergência que aceita prevenção e resposta rápida.
A boa notícia é que a maioria dos casos pode ser prevenida com atitudes simples, como manter-se em movimento, hidratar-se bem, evitar o tabagismo, praticar exercícios e seguir orientações médicas em situações de risco.
Fontes: Organização Mundial da Saúde (OMS), Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH), PubMed, PMC, Trial MedPath.


