A ortopedia é uma especialidade médica que exige técnica, precisão e, sobretudo, uma visão integrativa voltada para devolver movimento, qualidade de vida e bem-estar aos pacientes. Entre os profissionais que se destacam nesse cenário está o Dr. Thiago Tamaru, médico ortopedista e traumatologista, com subespecialização em cirurgias do pé, tornozelo e ortopedia pediátrica. Apaixonado pelo estudo do sistema musculoesquelético e movido pelo interesse em unir tratamentos clínicos e cirúrgicos, ele construiu uma carreira sólida, marcada pelo cuidado individualizado e pela busca de alternativas inovadoras para tratar dores e lesões.
Nos últimos anos, o Dr. Tamaru tem se tornado referência em medicina regenerativa, uma área que vem revolucionando a ortopedia ao estimular os próprios mecanismos de reparo do corpo humano. Em vez de focar apenas no controle de sintomas, como dor e inflamação, ou em cirurgias de substituição, essa abordagem busca restaurar tecidos, retardar a progressão de doenças e oferecer soluções menos invasivas, com resultados duradouros.
Com uma prática que alia recursos biológicos, tecnologias de ponta e um acompanhamento multidisciplinar, o especialista desenvolveu o protocolo “Jornada Terapêutica”, criado para atender desde atletas com lesões esportivas até pacientes com artrose ou dores crônicas. Nesta entrevista, ele compartilha sua trajetória, explica os diferenciais da medicina regenerativa e revela como enxerga o futuro da ortopedia no Brasil, em um cenário onde ciência, inovação e cuidado humano caminham juntos.
Como surgiu seu interesse pela ortopedia e, posteriormente, pela subespecialização em cirurgias do pé, tornozelo e pediátricas?
Meu interesse pela ortopedia nasceu da paixão pela prática de exercícios e pela curiosidade em compreender cada vez mais o sistema musculoesquelético. Sempre me atraiu o fato de ser uma especialidade que permite tanto o tratamento clínico quanto o cirúrgico. Apesar de gostar de todas as áreas da ortopedia, optei pelas cirurgias do pé, tornozelo e pela ortopedia pediátrica devido à demanda crescente do mercado de trabalho.

A medicina regenerativa tem ganhado bastante espaço nos últimos anos. Na sua visão, quais são os maiores diferenciais dessa área em relação aos tratamentos convencionais?
Os tratamentos convencionais costumam focar no controle dos sintomas como dor e inflamação por meio de medicamentos, infiltrações com corticoides, fisioterapia ou cirurgias de reparo estrutural. Embora eficazes, essas abordagens, em muitos casos, apenas retardam a progressão da doença.
Já a medicina regenerativa representa uma mudança de paradigma: em vez de apenas controlar sintomas ou substituir estruturas lesionadas, estimula os próprios mecanismos de reparo do organismo. Técnicas como o PRP, o aspirado de medula óssea (BMA) e as terapias com células mesenquimais atuam na modulação inflamatória e na regeneração tecidual. Assim, o tratamento deixa de ser apenas corretivo ou paliativo para se tornar biológico e restaurador, oferecendo soluções menos invasivas e muitas vezes capazes de postergar ou evitar grandes cirurgias.

Você criou o protocolo chamado Jornada Terapêutica. Poderia explicar em que consiste esse tratamento e quais pacientes se beneficiam mais dele?
A Jornada Terapêutica é um protocolo que combina técnicas de medicina regenerativa com recursos físicos avançados. Utilizamos PRP, BMA, células mesenquimais, ondas de choque e laser de alta intensidade para reduzir inflamação, estimular cicatrização, revascularização e produção de colágeno. Além disso, associamos soroterapia com minerais e aminoácidos essenciais para acelerar a recuperação muscular e melhorar a performance em atividades guiadas por fisioterapeutas e educadores físicos especializados.
Os pacientes que mais se beneficiam são aqueles com dores articulares crônicas, tendinites, lesões de cartilagem, artrose em fases iniciais e intermediárias, além de atletas com lesões esportivas. O tratamento é sempre individualizado e dividido em fases, que podem durar de 4 a 12 semanas.

Técnicas como infiltrações guiadas por ultrassom, PRP e terapias biológicas ainda são novidades para muitas pessoas. Como funciona, na prática, o processo de indicar e aplicar essas opções de tratamento?
Na prática, essas terapias são indicadas a pacientes que já passaram por tratamentos convencionais, como fisioterapia e medicação, mas ainda não têm indicação imediata de cirurgia. Nesses casos, a medicina regenerativa oferece uma alternativa menos invasiva, que foca na recuperação funcional e na melhora da qualidade de vida.

Muitos pacientes chegam acreditando que só a cirurgia resolverá suas dores crônicas. Quais são os principais mitos que você encontra nesse sentido e como a medicina regenerativa pode mudar esse paradigma?
Mito 1 – O tratamento convencional resolve a causa do problema. Na maioria das vezes, atua apenas no controle dos sintomas, sem tratar a degeneração tecidual.
Mito 2 – Cirurgia é sempre a única saída. Em muitos casos, técnicas regenerativas conseguem retardar a progressão da doença e até evitar cirurgias.
Mito 3 – A medicina regenerativa não tem base científica. Já existem inúmeros estudos mostrando a eficácia de PRP, células-tronco mesenquimais, ondas de choque e laser de alta intensidade.
Mito 4 – Regenerativo significa apenas infiltrações. O conceito é muito mais amplo e envolve protocolos que combinam recursos biológicos e físicos, adaptados ao perfil de cada paciente.
Essa mudança de paradigma permite menor agressividade, maior potencial de retardar doenças degenerativas, recuperação mais rápida e qualidade de vida com protocolos individualizados.

Além dos procedimentos regenerativos, você também associa soroterapia e exercícios físicos no tratamento. De que forma esse acompanhamento multidisciplinar potencializa os resultados?
A medicina regenerativa deve ser integrada a um programa terapêutico completo. A soroterapia contribui para o equilíbrio metabólico e reduz inflamações, enquanto os exercícios físicos fortalecem músculos, estabilizam articulações e mantêm os ganhos conquistados. Quando combinamos essas abordagens em um protocolo multidisciplinar, conseguimos acelerar a recuperação, melhorar a performance funcional e oferecer resultados mais duradouros.
Em sua experiência clínica, quais foram os casos mais marcantes em que os pacientes conseguiram evitar uma cirurgia por meio da medicina regenerativa?
Tive diversos casos marcantes. Um deles foi o de pacientes com artrose de joelho em grau intermediário, que já tinham indicação de prótese, mas, após protocolos com PRP, ondas de choque e exercícios supervisionados, conseguiram adiar a cirurgia por anos. Outro caso foi de um atleta amador com uma lesão extensa no ombro, inicialmente indicado para cirurgia. Combinamos laser de alta intensidade, PRP e reabilitação, e em poucos meses ele retornou ao treino sem dor. Esses resultados mostram como a medicina regenerativa pode mudar trajetórias clínicas, oferecendo soluções eficazes e menos invasivas.
Quais são os próximos passos para o futuro da ortopedia regenerativa no Brasil, e como você enxerga a evolução dessa especialidade nos próximos anos?
O futuro da ortopedia regenerativa caminha em três direções principais:
Expansão da evidência científica, com mais estudos clínicos brasileiros comprovando a eficácia dessas terapias.
Padronização dos protocolos, garantindo maior segurança, previsibilidade e aplicabilidade em larga escala.
Integração tecnológica, com biomateriais, medicina personalizada e uso de inteligência artificial para indicar os tratamentos mais adequados ao perfil de cada paciente.
Vejo essa área deixando de ser considerada alternativa para se consolidar como uma linha de cuidado essencial na ortopedia, com potencial de melhorar a qualidade de vida de pacientes, retardar cirurgias e oferecer tratamentos menos invasivos. O Brasil, por contar com uma população jovem e ativa, tem todas as condições de ser protagonista nesse avanço.

A trajetória do Dr. Thiago Tamaru mostra como a ortopedia pode ir além das soluções tradicionais e se abrir para um futuro em que ciência e inovação caminham juntas em benefício do paciente. Ao unir conhecimento técnico, visão integrativa e protocolos regenerativos personalizados, ele tem ajudado pessoas a recuperarem movimento, desempenho e, principalmente, qualidade de vida.
Mais do que tratar dores e lesões, sua missão é transformar a forma como enxergamos a ortopedia, oferecendo alternativas menos invasivas e mais humanas. Um olhar que aponta para o futuro da medicina e reforça a esperança de que é possível viver com mais saúde, equilíbrio e longevidade.
Foto: Bia Salla


