Há caminhos que nascem por escolha. Outros, por acaso. O de Junior Montalvão começou com uma intuição simples: estar perto do esporte sempre lhe fez bem. Não pelas medalhas, mas pelo ambiente. Pelo movimento. Pela energia de quem tenta, insiste e supera. Ele lembra com naturalidade: “Sempre gostei do esporte, desde futebol, vôlei, basquete, futevôlei. Não que sou bom, mas sirvo para formar time”. O que ele ainda não sabia é que o time que formaria não seria dentro de quadras ou campos, mas ao lado de corredores, triatletas e ultramaratonistas, com microfone em mãos e sensibilidade à flor da voz.
A locução já fazia parte de sua vida há mais de dez anos. Mas ela ainda não tinha encontrado o lugar certo para pulsar. Até que, no fim de 2023, um comentário mudaria o rumo: “Junior, porque você não vai fazer locução nas corridas de rua, vai se dar bem”. Ele não se empolgou de imediato, mas algo naquela frase permaneceu. Em uma manhã qualquer, foi observar uma prova. Não narrava, apenas assistia. Ficou à distância, atento ao silêncio entre o esforço e a chegada, à expressão de quem ultrapassava seus próprios limites, ao abraço emocionado de quem cruzava a linha final. Ali não estavam atletas. Estavam histórias.
Quando ouviu alguém dizer que seria melhor começar com corridas menores, respondeu em silêncio. “Eu não estava atrás de uma determinada corrida, se era grande ou pequena, eu sei que entrego o meu melhor sempre”. Foi com esse pensamento que aceitou o convite de Matheus Equilíbrio e, em 2024, estreou como locutor da Maratona de Ribeirão Preto. Era um trio no microfone, mas era a primeira vez que ele se sentia inteiro em um lugar. Ele narrou, aprendeu, observou e sentiu que havia encontrado sua identidade profissional.
2024 marcou o início. 2025 trouxe sentido. Até janeiro, ele não conhecia a distância de 11 quilômetros. Mas aceitou o convite de Nathan para acompanhar a Meia Maratona de Barra Bonita. Começou a treinar sozinho, até que foi convidado por Rob Prado, da Assessoria RP Run, a integrar o grupo. Aprendeu sobre respiração, cadência e resistência. Correu. Concluiu. E naquela mesma noite participou do lançamento do livro Transpira Respira Inspira, onde é coautor.
Foi nesse evento que algo lhe tocou de forma diferente. Descobriu a tradição de corredores que, no dia do aniversário, percorrem a quantidade de quilômetros equivalente à idade. Levou a ideia à esposa, que apoiou. Compartilhou com Edu Carozelli, que aprovou. No dia 4 de maio, iniciou o percurso com cinco amigos. À medida que as horas passaram, mais e mais pessoas se uniram. No final, eram aproximadamente 140 corredores. A corrida transformou-se em ação solidária com arrecadação de mais de 250 quilos de alimentos. Ele recorda que, no dia seguinte, recebeu mais mensagens de pessoas dizendo que superaram suas distâncias do que mensagens de parabéns. Era sobre propósito, não sobre aniversário.
Desse encontro entre esporte e solidariedade nasceu o grupo Corredores com Propósito. Um movimento que não tem linha de chegada. Reúne iniciantes, amigos de estrada, vozes que incentivam e pessoas que correm por algo maior. Ali, o tempo registrado no relógio é o que menos importa.

Na locução, Junior vive aquilo que define como momentos mágicos. Ele conhece o valor de quem corre cinco quilômetros pela primeira vez. Sabe reconhecê-lo na respiração acelerada, no olhar fatigado e no sorriso que se mistura com lágrimas. Ele está ali, com microfone, não para anunciar resultados, mas para celebrar conquistas invisíveis.
No GP Extreme, em 2024, protagonizou uma das cenas que jamais esqueceu. Na chegada da triatleta Giselle, começou a falar sobre superação e esforço. Sentiu a voz embargar. Quando percebeu, estava agachado ao lado dela, acompanhando aquele instante. Não narrava. Participava.
Na Goat Run, em Barretos, em 2025, viu Elaine cruzar a linha de chegada de sua primeira corrida de cinco quilômetros. Ela estava entre as últimas, mas depois escreveu: “Eu me senti que estava entre as primeiras”. Ali, Junior reafirmou sua certeza de que a locução não celebra posições. Celebra histórias.

Para 2025, ele se prepara para um novo capítulo. Será locutor do Desafio 116, em São Carlos, organizado por Edu Carozelli. A ultramaratona tem uma meta coletiva: arrecadar mais de seis toneladas de alimentos. Ele também correrá durante a madrugada com os atletas. Diz que será um momento único, daqueles que permanecem na memória por muito tempo.

Fora das pistas, Junior também encontrou outra forma de contar histórias. Em janeiro de 2024, foi convidado para apresentar o Podcast Zoom Esportivo. A estreia aconteceu em fevereiro do mesmo ano. Desde então, ele se tornou a voz de atletas que construíram seus nomes longe dos grandes holofotes, mas perto da essência do esporte. Ali, já conversou com Leandro Pereira, campeão pelo Palmeiras em 2015 e 2016, com Guilherme Dalla Dea, treinador da Seleção Brasileira de Base, com Ale, campeão mundial com o São Paulo, com Meneghelli, do basquete, e com Murillo Gouvea, do beisebol. O Zoom Esportivo valoriza São Carlos e região, unindo perfil humano com memória esportiva.
Hoje, a presença de Junior Montalvão não está apenas nas corridas. Está nas histórias que acolhe, nas vozes que incentiva e nas chegadas que transforma em grandes momentos. Seu microfone não anuncia resultados. Traduz conquistas.


