Nos últimos anos, relógios e anéis inteligentes se tornaram acessórios populares para quem busca monitorar a saúde. Equipados com sensores que medem frequência cardíaca, nível de oxigenação no sangue e até padrões de sono, esses dispositivos prometem fornecer dados valiosos para o bem-estar dos usuários. No entanto, muitos médicos têm levantado dúvidas sobre a real utilidade dessas tecnologias e alertam para possíveis riscos na interpretação dos dados.
Precisão e Interpretação dos Dados
Um dos principais pontos de preocupação é a precisão dos sensores. Estudos apontam que os dispositivos podem apresentar variações significativas nos resultados, especialmente em métricas como oxigenação do sangue e eletrocardiograma (ECG). Médicos alertam que pequenos erros podem gerar preocupações desnecessárias ou até uma falsa sensação de segurança.
“A tecnologia evoluiu muito, mas esses dispositivos ainda não são equipamentos médicos certificados para diagnóstico. Eles podem fornecer informações úteis, mas devem ser usados com cautela”, explica o cardiologista Dr. João Almeida.
Ansiedade e Hipervigilância
Outro problema observado pelos especialistas é o impacto psicológico do monitoramento constante. Muitos usuários relatam ansiedade ao acompanhar métricas como a frequência cardíaca ou a qualidade do sono, tornando-se excessivamente preocupados com pequenas variações que, na maioria dos casos, são normais.
“A chamada ‘hipervigilância da saúde’ pode levar a um comportamento obsessivo, em que a pessoa confia mais no relógio do que na própria percepção do corpo”, afirma a psiquiatra Dra. Mariana Costa.
Falsa Segurança e Autodiagnóstico
O uso indiscriminado dessas tecnologias também pode levar a um fenômeno perigoso: o autodiagnóstico. Algumas pessoas deixam de buscar ajuda médica porque os dispositivos não indicam nenhuma anormalidade, enquanto outras correm para hospitais por alterações mínimas que não são clinicamente relevantes.
“Já atendi pacientes que ignoraram sintomas sérios porque o relógio não apontou nada fora do comum, assim como outros que entraram em pânico por leituras ligeiramente alteradas, sem nenhuma relevância clínica”, relata o clínico geral Dr. Rafael Mendes.
O Que os Médicos Recomendam?
Apesar das limitações, os especialistas não descartam totalmente o uso dos dispositivos. Eles recomendam que os usuários encarem esses gadgets como aliados na promoção de hábitos saudáveis, mas sem substituir consultas médicas regulares.
“O ideal é utilizar esses dispositivos para acompanhar tendências ao longo do tempo, e não para decisões médicas imediatas. Em caso de dúvidas, o médico sempre deve ser consultado”, conclui o Dr. João Almeida.
Com o avanço da tecnologia, é provável que esses dispositivos se tornem mais precisos e úteis para a prática médica. No entanto, por enquanto, a recomendação dos especialistas é clara: use com moderação e sempre com o acompanhamento profissional.


