Há quem acredite que misturar carne com lácteos, como na tradicional panqueca com ricota, faz com que os nutrientes concorram entre si, especialmente ferro e cálcio. Mas quando observamos como o organismo absorve esses minerais, percebemos que a alimentação cotidiana nem sempre é palco de disputas nutricionais. Muitas vezes, os alimentos coexistem sem atrapalhar o aproveitamento do que realmente importa.
O ferro presente na carne, chamado ferro heme, é altamente biodisponível. Isso significa que o corpo o absorve com facilidade, sem depender da ação de vitamina C e sem sofrer interferência relevante de outros minerais, como o cálcio. A ricota, apesar de ser fonte desse mineral, não apresenta quantidade suficiente para comprometer essa absorção. Para que isso acontecesse, seria necessário consumir volumes bem maiores do que o que se utiliza numa receita comum.
Já o ferro não heme, encontrado no feijão, nas folhas escuras e em alguns cereais, é mais sensível. Ele depende de fatores como vitamina C para ser melhor absorvido e pode ser afetado por quantidades elevadas de cálcio, magnésio ou fibras. Nesses casos, o intervalo entre alimentos pode realmente fazer diferença. Ainda assim, essa interferência só ganha relevância em contextos bem específicos, principalmente em suplementações.
A competição entre minerais, quando existe, não nasce no prato, mas na dosagem. É o excesso, e não a combinação, que provoca desequilíbrios. Quem suplementa ferro pode reduzir involuntariamente os níveis de zinco. Quem exagera no cálcio pode dificultar a absorção de cobre. A interferência não acontece de forma imediata. Ela se revela com o tempo, quando o organismo começa a sinalizar: unhas frágeis, queda de cabelo, fadiga, dificuldade de concentração.
Na alimentação natural, essa preocupação raramente se justifica. O corpo tem inteligência para organizar prioridades, absorver o que necessita e desprezar o que está em excesso. Não existe uma guerra de nutrientes em cada refeição. Existe, sim, um sistema sofisticado que administra de forma precisa aquilo que oferecemos a ele.
Antes de questionar se a combinação prejudica, vale perguntar: é comida ou suplemento? Na maioria das vezes, é comida. E, nesse caso, o organismo sabe exatamente como agir.


