A história de Lucas*, de apenas 15 anos, tem chamado atenção de educadores e especialistas em saúde mental. Após anos mergulhado em jogos eletrônicos e redes sociais, o adolescente surpreendeu a todos ao desenvolver um profundo interesse pela leitura. A transformação, além de inspiradora, revela aspectos fascinantes sobre a capacidade do cérebro de se regenerar e criar novos caminhos — um fenômeno conhecido como neuroplasticidade.
Lucas começou sua mudança com um simples desafio de leitura proposto por um professor. Desde então, não parou mais. Hoje, ele já leu mais de 30 livros — de clássicos da literatura brasileira a romances contemporâneos. Sua concentração melhorou, o rendimento escolar subiu, e a relação com a família se fortaleceu.
Segundo o psiquiatra e professor da USP Dr. Daniel Barros, casos como o de Lucas são mais comuns do que se imagina, e ilustram bem como o cérebro é capaz de se reorganizar diante de novos estímulos.
“Quando uma pessoa deixa um comportamento compulsivo e começa a investir energia em outra atividade mais saudável, o cérebro literalmente cria novos circuitos. A leitura, nesse caso, passou a ocupar o lugar do estímulo anterior e, com o tempo, tornou-se a nova fonte de prazer”, explica o especialista.
Estudos apontam que, durante a adolescência, o cérebro passa por uma intensa fase de remodelação. Isso significa que hábitos — bons ou ruins — são reforçados mais facilmente, mas também podem ser revertidos com tempo, estímulo e apoio emocional.
A mãe de Lucas, que preferiu não se identificar, conta que a mudança veio acompanhada de muito diálogo. “A gente tentou impor limites por muito tempo, mas foi quando ele se sentiu ouvido que tudo começou a mudar. O livro foi uma ponte entre nós.”
Diante de um cenário onde o vício em tecnologia entre jovens cresce a cada ano, histórias como a de Lucas trazem esperança — e lembram que a chave da transformação, muitas vezes, está em algo tão simples quanto abrir um livro.
*Nome fictício usado para preservar a identidade do menor de idade.


