Estudos recentes têm demonstrado que os hábitos alimentares durante a gestação e os primeiros anos de vida podem influenciar diretamente a saúde cardiovascular na vida adulta. Entre os fatores mais determinantes está o consumo de açúcar um vilão silencioso que, quando ingerido em excesso nas fases iniciais da vida, pode aumentar significativamente o risco de doenças cardíacas, obesidade e diabetes no futuro.
Segundo a cardiologista pediátrica Dra. Fernanda Magalhães, do Instituto do Coração (InCor), o metabolismo infantil é extremamente sensível às alterações nutricionais. “O excesso de açúcar desde o útero provoca uma espécie de ‘memória metabólica’, fazendo com que o organismo da criança tenha maior propensão a desenvolver resistência à insulina e inflamação crônica, dois fatores ligados às doenças cardiovasculares”, explica.
A pesquisa publicada recentemente na revista Nature Metabolism reforça essa visão: crianças expostas a dietas ricas em açúcares simples especialmente provenientes de ultraprocessados e bebidas adoçadas apresentaram maior tendência a alterações no colesterol e na pressão arterial já na adolescência. O estudo acompanhou mais de 4 mil crianças ao longo de 20 anos e mostrou que a introdução precoce de alimentos naturais e não processados é uma forma eficaz de prevenção.
Além da alimentação, especialistas destacam a importância de políticas públicas e conscientização familiar. “Gestantes e pais precisam entender que o paladar se forma nos primeiros anos. Se a criança cresce acostumada ao sabor doce, a chance de manter esse padrão de consumo é muito maior”, observa a nutricionista Camila Barreto, mestre em Nutrição Materno-Infantil pela USP.
A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que o consumo de açúcares livres não ultrapasse 10% do total de calorias diárias e, idealmente, fique abaixo de 5%. Para gestantes, o ideal é priorizar frutas, cereais integrais, proteínas magras e evitar refrigerantes, bolachas, sucos industrializados e doces.
Cuidar do coração começa muito antes do nascimento. Ao reduzir o açúcar na gestação e nos primeiros anos, mães e famílias estão, na verdade, investindo em décadas de saúde cardiovascular.


