Em mais uma declaração polêmica, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, associou publicamente o uso de paracetamol durante a gravidez ao risco de desenvolvimento de autismo em crianças. A fala repercutiu rapidamente, gerando preocupação em gestantes e abrindo espaço para desinformação nas redes sociais.
No entanto, especialistas em saúde materno-infantil e neurologia reforçam que não há evidências científicas que comprovem tal relação. O paracetamol, também conhecido como acetaminofeno, é amplamente utilizado em todo o mundo como analgésico e antitérmico seguro, inclusive durante a gestação, desde que em doses recomendadas.
A obstetra Dra. Lúcia Alves, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), explica que “o paracetamol continua sendo considerado uma das opções mais seguras para o controle da febre e da dor em gestantes. O que pode ser prejudicial ao bebê é a febre alta não tratada, que, sim, está associada a complicações”.
Já o neurologista infantil Dr. Daniel Moreira, do Hospital das Clínicas da USP, alerta que a disseminação de falas sem respaldo científico pode gerar medo e até mesmo levar mulheres a não tratarem sintomas importantes durante a gravidez. “O autismo é uma condição multifatorial, com forte componente genético. Não existe comprovação de que medicamentos comuns como o paracetamol sejam responsáveis pelo seu desenvolvimento”, reforça.
Pesquisas sobre o tema já foram realizadas, mas até o momento nenhuma conseguiu estabelecer uma ligação causal direta. Em 2021, um grupo de cientistas chegou a recomendar cautela no uso excessivo do medicamento durante a gestação, mas ressaltou que ainda são necessárias investigações mais robustas para confirmar qualquer associação.
Assim, especialistas reforçam que gestantes devem seguir sempre as orientações médicas e não interromper o uso de medicamentos de forma arbitrária. O paracetamol segue sendo indicado, dentro dos limites de dosagem recomendados, como uma das opções mais seguras disponíveis.
